Fazendo jus à inclusão, um dos princípios basilares em tudo o que a Fundação MASC faz, não são apenas as mulheres de GP que frequentam aulas de educação e alfabetização de adultos. Age Alfredo, 64 anos, é um dos poucos homens que se juntou a um grupo maioritariamente composto por mulheres. Com coragem, Alfredo enfrentou um estereótipo que é o de muitos homens adultos, particularmente nas zonas rurais: o complexo de que as esposas e a sociedade não se podem aperceber das fragilidades dos maridos/homens, ainda mais quando há, nas salas de aulas, mulheres mais inteligentes que eles.

Age Alfredo esteve, desde logo, ciente dessa realidade, mas não era nada que vencesse a sua vontade de aprender. E já está a colher os frutos da sua atitude: sabe ler, escrever, fala português e faz cálculos. Na sua memória ainda guarda os tempos em que tinha de “sujar” documentos porque não sabia assinar. “Agora consigo assinar o documento, mas, anteriormente, era molhar o dedo na almofada para sujar o documento”, refere.

Antes das aulas de alfabetização, as SMS que conseguia nas recargas para o seu telemóvel não eram mais do que um recurso sem utilidade. “Naquela altura, não conseguia escrever uma mensagem.O telefone era só para falar. Por isso, eu perdia SMS. Mas, agora, escrevo, tanto em macua, como em português”, assegura.

Com a alfabetização, Age Alfredo resolveu, igualmente, uma preocupação que é de muitos homens e mulheres analfabetos. Antes, quando a esposa recebesse mensagens no seu telemóvel, Alfredo não podia entender de que se tratava. Mas, actualmente, a esposa já “não deixa o telemóvel porque sabe que o galo começou a cantar”, diz o homem que se sente renovado. Quando está de viagem, Alfredo já consegue ler distâncias nas placas, o que lhe permite estimar a duração da viagem.

Na entrevista, ele também não podia deixar de contar histórias de dinheiro que perdia nas compras, com vendedores desonestos a devolverem-lhe trocos incompletos, tudo porque Alfredo não sabia fazer contas. “Isso não faltava”, afirma. Numa simulação ao longo da entrevista, o idoso responde, de forma flexível, que, com 50 Meticais, a comprar algo a 20, deve ter exactos 30 Meticais de troco. Por isso, Alfredo tem uma mensagem para os homens que, um pouco por todo o país, resistem às aulas de alfabetização para não exporem as suas fraquezas perante as mulheres e a sociedade. “Amigos, vamos à escola!”, apela.