Andia Ussene era uma rapariga na flor da idade quando viu a guerra civil a anular qualquer perspectiva de preparar o seu futuro, através da educação. Estava na 3a classe quando a guerra forçou a paralisação das aulas em Angoche. Era como se o mundo tivesse desabado sob os pés da pequena Andia. Ao invés da escola, tinha que fugir para salvar a vida. Durante dias, viveu na mata como refugiada de guerra.

Como se não bastasse, os seus pais foram capturados e levados para a Zambézia, por uma das partes do conflito que durou 16 anos. Andia ficou a viver com os avós, mas não mais voltou a estudar.

Os anos passaram, até que, em 2021, tomou conhecimento da iniciativa Grupos de Poupança, da Fundação MASC. Já aos 40 anos, o GP foi como mais uma porta a abrir-se na sua vida.

Nessa altura, Andia já não sabia ler nem escrever. Mas, agora, tudo mudou e ela pode dar um testemunho: “é bom estudar porque aprendemos muita coisa, como ler, escrever e fazer contas”.

Agora, ela gostaria de escrever mensagens para as amigas, o que não faz não por falta de capacidade, mas por não ter um telemóvel próprio. Quando recua no tempo, lembra-se ainda como era possível entregar 50 Meticais e o vendedor devolver trocos a menos. “Hoje sei reclamar. Sinto-me feliz porque já aprendi muita coisa”, sublinha.